sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ROUSSEAU, FORÇA E LIBERDADE

            Na leitura de O Contrato Social (1989) de Jean Jacques Rousseau, encontramos um pensador moderno que apresenta questões inquietantes e importantes para o pensamento político e filosófico como um todo. Rousseau ao considerar o homem e as leis, tenta investigar se há regras de administração legítima e segura na ordem civil. Para isso une a justiça e o interesse.
Em uma assertiva Rousseau diz que: “Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres.” (ROUSSEAU, 1989, p. 15). O poder que uma pessoa tem sobre outra se resumiria à força? No estado de natureza, se o homem quiser defender sua liberdade só possui a força para preservá-la. Dessa maneira, diante de alguém mais forte que o subjuga, encontrar-se-á em uma situação na qual deverá obedecer, e assim a liberdade se torna algo que não lhe pertence. Mas até que ponto o homem que renunciou sua liberdade por imposição de uma força maior tem de ser submisso a outrem? A força não legitima a submissão, Rousseau argumenta indagando: “Não está claro que não se tem obrigação alguma para com aquele de quem se tem o direito de tudo exigir?” (ROUSSEAU, 1989, p. 15). Quem impõe sua força a outrem nunca será consideravelmente forte para perpetuar essa força, para com o dominado, se não transformar essa mesma força em direito.  

Mas, e se a ideia de render-se ao direito da força se tornasse uma obrigação? O conceito, assim, se tornaria uma questão complexa: se a força faz o direito, a consequência, dessa maneira, mudaria com determinada causa, pois toda a força que domina a razão se posicionaria no lugar do direito. Desde que se pode desobedecer sem impunidade, poder-se-ia o fazer legalmente. E assim, nesse caso, como o mais forte teria a razão ao seu lado, uma luta para se tornar o mais forte seria o motor da sociedade. Que valeria um direito que aparenta firme quando a força se esvai? A obediência à força, nesse caso, não poderia ocorrer por obrigação. E onde não existe uma força para se consentir, a obrigação do “bom cordeiro” não mais existirá. 

BIBLIOGRAFIA: 

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: EditoraMartins Fontes, 1989.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Dia das crianças, um dilema: Estar presente ou dar um presente?




RODRIGUES, R.M (2013)

O “Dia das Crianças” foi idealizado em meados de 1920, quando um deputado propôs a ideia de uma data para homenagear os pequenos. A escolha do dia 12 de outubro foi feita no encerramento do 3º Congresso Americano da Criança e do 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância no Rio de Janeiro em 1922. Entretanto, podemos relativizar o “Dia das Crianças” no Brasil como uma data estratégica para o comércio, pois a proposta só se concretizou na sociedade quando a publicidade entrou em cena. Na década de 1960, uma parceria entre as empresas, a saber, Brinquedos Estrela e Johnson & Johnson, criaram a Semana do Bebê Robusto. Percebendo o apelo comercial, em junho do mesmo ano, outras empresas resolveram criar a Semana da Criança para alavancar as vendas. Depois dessa estratégia publicitária, o “Dia das Crianças” ganhou a forma conhecida hoje. 

Nessa época envolta pelo “Dia das Crianças”, os pais fazem de tudo para agradar seus filhos e parecem ter uma obrigação inata de presenteá-los. Eles compram presentes caros e supérfluos, enquanto os pequenos ficam, ansiosamente, na expectativa do que ganharão – muitas vezes presentes não compatíveis com a realidade deles. Pensando sobre o presente verificamos que nessa injunção que se torna o presentear, todo o “mais valor” que deveríamos repassar aos pequenos se “absolve”, proclamando uma omissão afável à paternidade. Essa omissão, permeada de cinismo atualmente, se transveste de obrigação e, invariavelmente, se configura em uma arma para o marketing. Cada dia mais, esse se impõe às crianças, pois dessa forma consegue se usufruir desse perverso mecanismo compensatório. A compensação, perante a ausência e a falta de tempo com os filhos, obviamente, não funciona. Vivemos, então, presos perante o paradoxo do presentear nessa “era da compensação”. Todavia, é importante refletir: a maneira como o “indivíduo pai-mãe” se insere no meio social é um reflexo das problemáticas apresentadas?

Os indivíduos hoje estão inseridos em um contexto a qual um número infindável de escolhas lhes recai. Beck e Beck-Gernsheim, em seu livro The Normal Chaos of Love (1995), “consideram que nossa era é repleta de interesses em colisão, entre a família, o trabalho, o amor e a liberdade de perseguir objetivos individuais.” (Beck e Beck-Gernsheim apud Giddens 2012, p. 272). Dessa forma, a escolha dos “indivíduos pai-mãe” vincula-se à ideia dos interesses em colisão: será que os pais trabalham para dar uma “vida digna” aos filhos, muitas vezes porque aqueles não tiveram essa “vida digna”? Ou a paternidade para eles estaria em uma relação de conflito com seus objetivos individuais, profissionais, sociais, entre outros, os quais, imersos na busca da satisfação pessoal, deixam em segundo plano as relações familiares. Nesse ponto, hoje a “guerra entre os sexos” se torna um desafio à família. E o debate sobre a compensação ao presentear os filhos se revigora no que tange ao sujeito. Os pais, assim como os indivíduos na sociedade, são definidos pela sua essência, mas estão alienados de sua existência (MARX, 2004), imersos em um ponto sem retorno – o que se reflete na proclamação por amor que as pessoas realizam. A individualidade e a busca incessante pela felicidade aprisionam o indivíduo em contradições. A ideia de “amar o próximo como a si mesmo” – invocação bíblica que contrapõe totalmente o espírito do ser contemporâneo, individual e hedonista. Diria masoquista? (Risos) – é apenas uma forma de mitigar a consciência. Freud relata que, por uma “imposição social para o bem da civilização”, o homem é oprimido em suas pulsões e, dessa forma, vive em mal estar. Diz ele:

A patologia nos apresenta um grande número de estados em que a delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática ou os limites são traçados incorretamente; casos em que partes do próprio corpo, e componentes da própria vida psíquica, percepções, pensamentos, afetos, nos surgem como alheios e não pertencentes ao Eu. (2010, p. 17)

Os pais, presos em paradoxos, arduamente devem se perguntar em algum momento até que ponto o amor pelos filhos deve ser realizado da maneira como estão fazendo. De alguma forma sabem que o modo como as relações familiares estão sucedendo são suicidas. Essa asserção é claramente expressa na ideia freudiana citada, pois toda a estrutura psicológica do “indivíduo pai-mãe” vive um mal estar. Nesse sentido, o indivíduo clama por amor. Em que ponto estaria o amor nesse contexto?

Em Amor Líquido (2003), o sociólogo Zygmunt Bauman diz que as relações sociais, pautadas em uma responsabilidade mútua, entre as partes que se relacionam, são trocadas por relações descartáveis. Para ele, os tempos são “líquidos” e tudo muda demasiadamente rápido. Disso resultariam, entre outras questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a paranóia com segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos e familiares. É um mundo de incertezas. Cada um por si – e o capital e a libido contra todos? (Risos). As relações familiares tornaram-se frágeis. Os pais, priorizando objetivos pessoais em detrimento dos filhos, dificilmente sabem o presente que as crianças querem. Já que, nesses casos, muito provavelmente os diálogos são vazios quando acontecem. Dessa forma, o presente volta ao cerne do assunto, pois os genitores apenas o entregam aos filhos como compensação a sua ausência. Não brincam com eles, não conversam, não questionam. Ou seja, não se interessam pelo pequeno ser humano, sentado ao chão sutilmente, com um presente na mão, os olhos sorridentes, a alegria contagiante, mas, indubitavelmente, necessitando dos pais. Isso, sobretudo, é reflexo da volatilidade e dissolução da vida, angustiante evidência do mundo em que vivemos  conforme citado. A geladeira é ligada pela compensação. E nesses tempos em que até os sonhos são líquidos, todo amor flui.


Raphael Rodrigues é analista de sistemas e estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2003

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização In: Obras Completas Vl. 18. São Paulo: Cia. das Letras. 2010

GIDDENS, Anthony. Sociologia.  Porto Alegre: Penso, 2012

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004

sábado, 24 de novembro de 2012

De oportuno a importuno


O que entregar? Se jamais se entregará? O que dizer? Se nunca dirá? Dizeres formais apenas perdidos...

Esse ponto sem retorno – que se busca atualmente – é o alicerce para contestações antagônicas, as quais a contemporaneidade necessita. Dizeres incognitivos que apenas realçam a incerteza que paira sobre corações nus de instabilidade consensual. Aceitar o inaceitável, que é o que sempre leva as idealizações sem ideais – opacas; onde persistem visões em paralaxe – causas perdidas; solitárias nas orações vis ao destino líquido e, assim, improibitório ao ser.
Consequentemente, esse “ponto sem retorno” delineia seu início, “o nada”. Caminha ao nada e retorna ao nada. Aos sentidos de quem compreende os signos dessa ideia, tudo pode soar compreensivelmente como uma gênese de nada. Ao passo que, de qualquer maneira, olha-se ao nada e não vemos nada, do oportuno ao importuno. Vincula-se somente o vácuo à questão sagaz.
Dessa forma, no presente, entender a natureza humana, torna-se simplesmente inteligível. É necessária apenas a imersão despretensiosa na sociedade vigente. Pensando-se (.oO), não há dificuldade na compreensão dialética da psique social. E, assim, a perplexidade se perde na estrutura pueril do significante. A magia se torna a incerteza do agir. O princípio da insensatez pós-moderna humana, que é o que nos difere não somente em particularidades bioquímicas, sociais, psicológicas etc., se encontra no cerne das neuroses coletivas. Os sintomas caminham entre nós.  
Se o princípio dessas nossas moléstias é verificado na figuração de palavras soltas, que particularmente estão presas, mas, exteriorizam-se como calotas polares pelo aquecimento global, encontraremos os transtornos basilares e, nessa base, o fundo desse profundo labirinto se resumirá a uma ideia central, a saber:

O gozar é o passo que guia o egoísmo, a qual estamos condenados, invariavelmente. Será realmente que somos resumidos à "reprodução e alimentação"? A liberdade, inexoravelmente, é apenas a ilusão criada para esconder essa síntese e, nessa síntese, encontra-se Lacan: "Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer."


RODRIGUES, R. M. (2012)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Reflexões I

          Almoço, eu pensativo.oO

          Olho a frente, passa na tv do restaurante um comercial da tv a cabo da Embratel, penso:

          - Cacete! Família 'modelo'. Robótica! Como um quadro a ser analisado. TV, programação a cabo, exposta numa sala sem vida.

          Numa visão alternativa (risadas) concluo que a verdade (risadas) só estraga o atributo de ser. Se reflito dessa maneira, como refletiria sobre uma família hardly comunista? Todos lendo Marx. As pernas cruzadas evocando o espírito da barba selvagem (risadas). Chá de ervas da Malásia ocidental colhido nos vasos estampados na janela do apartamento?

          Estranho, mas porque: espírito da barba selvagem? Porque chá ao invés de coca-cola? Poderia mudar o chá para batida de espanhola? Porque um marxista deveria, inexoravelmente, tomar chá de coca ao invés de  coca-cola? Estereótipos.

          Combater os dogmas de ideologias. Abdicar de tudo aquilo que você despreza mas necessita?Hipocrisia? Dizem: é bom pensar antes de falar, será? O molde dos pensamentos nunca é certo. Você é contra isso ou contra aquilo? E a certeza, verdade! O certo é também incerto. Humanamente, humano! Como você reles mortal irá fazer um garoto consumado na família modelo, quinze anos de idade, porra saindo pelos cotovelos, pensar sobre a determinação econômica da vida contemporânea?

          Olho a frente, passa agora um comercial da Devassa com a Sandy, penso:

          - É melhor procurar outro restaurante...